sábado, 18 de julho de 2009

Como avaliar um Niva

Quando alguém manifesta interesse em entrar no mundo 4x4, uma das primeiras dúvidas que a maioria se depara é sobre qual veículo escolher... e dependendo do poder aquisitivo do postulante a "offroader", a questão financeira é um dos fatores mais determinantes na escolha da primeira viatura, o que leva diretamente ao mercado de usados.
Neste caso, o jipe Lada Niva é um dos 4x4 mais lembrados, muito provavelmente em função do custo relativamente baixo em relação às outras opções.


O aspecto robusto e uma espécie de aura de desapego material herdada provavelmente do regime comunista, também são fatores importantes nesta decisão, já que constantemente, o intrépido russinho é visto em comerciais de apelo aventureiro e até ecológicos, o que inegavelmente atrai muitos admiradores - incluídos aí seus proprietários, que são conhecidos como "Niveiros" - desde o início de sua importação.


Aliás, cabe salientar que o Niva foi trazido ao Brasil - junto com outros modelos Lada - no início dos anos 90 pelo então "neoliberal" governo Collor, que (re) abriu a importação de veículos no país.

Quando alguém decide finalmente que seu primeiro 4x4 será um Niva, surgem muitas dúvidas e anseios (e receios), por isso resolvi, a partir de uma demorada pesquisa, unida a todo o conhecimento adquirido em quase 3 anos de Niva e frequentando a turma dos mais experientes e conhecidos Niveiros de São Paulo e até de outros estados, reunir e esclarecer a maioria das questões técnicas e até algumas "não tão técnicas" que flutuam sobre a aura deste controvertido e fascinante veículo "todo terreno" para servir de parâmetro inicial para quem quer entrar neste mundo tão envolvente.

Em primeiro lugar, quem quer comprar um carro como esse, precisa estar certo de seus objetivos, já que existem diversos mitos e lendas sobre o mesmo, justamente por que muitos compram esses veículos sem conhecer. Tenha em mente também que nenhum "jipe" preza pelo desempenho no asfalto (salvo raras e "caras" exceções) e sim pela performance justamente em baixa velocidade. Além disso, principalmente no uso off road, tendem a ser mais "beberrões".

O Lada Niva, é um veículo de tração integral contínua, ou seja, é um 4x4 "full time" não sendo possível desligar essa tração normalmente (transformar em 4x2), além disso tem uma ótima reduzida que "encurta" a relação de marchas e multiplica a força do motor. Conta também com bloqueio de diferencial central que falarei posteriormente. Trata-se de um veículo que tem sua origem na antiga União Soviética, projeto de parceria do regime comunista através da Auto Vaz, proprietária da marca "Lada" com a Fiat italiana nos anos 60 e que foi concebido inicialmente para andar principalmente na neve (daí os curiosos limpadores de farol, então uma inovação) mas com conforto e segurança, na época.

Outra particularidade que para alguns é um defeito: O Niva não tem chassis separado, tipo longarina, que absorve as torções causadas por buracos e erosões, é um veículo de estrutura monobloco, assim como carros de passeio comuns e por isso alguns o definem como um carro de passeio 4x4 e não como um jipe. Assim, quando colocado constantemente em condições extremas, essas torções vão sendo transmitidas para o monobloco e a médio e longo prazo, forçando assoalho, caixas de ar, colunas e carroçaria em geral, que com o tempo, evidentemente sentem o esforço e acabam por deteriorar com mais facilidade. Entretanto, essa característica também tem pontos positivos: O veículo fica mais leve, com maior espaço interno, infinitamente mais macio no que tange a suspensão, entre outros detalhes.


Essa característica não impede e nem diminui o desempenho do Niva em trilhas consideradas "pesadas", porém, se esse é o seu objetivo, a menos que pretenda investir uma boa quantia em adaptações, o Niva não é o veículo que procura. Recomendo optar por um CJ (tipo Willys tradicional) por exemplo... mas não espere conforto... Agora, se "conforto" é imprescindível, opte por um Vitara, mas não espere preço baixo.

Para viagens, o Niva vai bem, alguns bem alinhados e regulados chegam a até 140km/h de máxima, mas uma velocidade "confortável" fica entre 90 e 110km/h. O consumo, com carburação bem regulada e com motorização original, pode chegar até a 10km/L na estrada, mas a maioria fica entre 7 e 9 km/l na estrada, sendo que na cidade essa média cai consideravelmente. O seu espaço interno é bom (ótimo se comparado aos Suzuki), ainda que se trate de um carro espartano, seu conforto é razoável (exceto pelos bancos originais, considerados extremamente desconfortáveis) e a suspensão bem macia e estável (dianteira independente sobre braços transversais e molas helicoidais e traseira com eixo rígido e molas helicoidais), muito semelhante aos carros de passeio, também devido ao monobloco. Sua manobrabilidade também é boa, entretanto, apenas alguns modelos saíram das concessionárias com a caixa de direção gemmer (de origem francesa) também conhecida como "aliviada".

Em função do tempo de uso e de (in)consequentes adaptações, nenhum Niva é absolutamente igual ao outro, por isso, experimente, ande e dirija o máximo de Nivas que conseguir antes de optar por um, isso diminui a chance de surpresas posteriores.

Se depois de chegar até este ponto, ainda preferir comprar um Niva, prossiga agora a leitura onde destaco ítens importantes para avaliação no caso de uma possível compra:

CÂMBIO, REDUZIDA E BLOQUEIO:

É normal existir um pouco de vibração nas alavancas da caixa de reduzida, mas fique atento a excessos. Avalie a condição em baixas e “altas” velocidades, normalmente as vibrações se acentuam numa faixa bem definida. Faça o teste também arrancando com o carro em subidas, observando se o carro não chacoalha inteiro. Lembre-se, é comum existir um pouco de vibração, porem nada muito acentuado.


Convém testar também com o carro parado. Posicione a alavanca da reduzida em neutro, engrene o carro até a quarta marcha e verifique se ocorre excesso de vibrações em altas rotações.

Dirija o Niva em uma rua plana, acelere e tire o pé abruptamente. A alavanca de marchas não deve pular sozinha para ponto morto. Faça isso em todas as marchas, observando também se as marchas não raspam excessivamente quando engatadas.

Com o carro desligado, deixe a alavanca da reduzida em neutro e verifique se todas as marchas engatam e desengatam satisfatoriamente, mesmo sem pisar na embreagem. Exceto a marcha ré.

Teste o funcionamento da redução dirigindo o carro em primeira marcha reduzida e logo após sem a reduzida acionada, você deve perceber claramente a diferença. Procure também subir com o carro em morro ou algo similar, você notará que com a reduzida acionada o carro ganha força.

Teste o funcionamento do bloqueio. Uma vez engatada, com a luz amarela no painel acesa, dirija em linha reta e observe a existência de barulhos ou estalos na aceleração e desaceleração do carro. Não esqueça de desbloquear o carro após o teste.

É comum certa dificuldade para acionar e "desacionar" a alavanca de bloqueio. Neste caso, alinhe o volante, movimente o carro em linha reta para a frente por aproximadamente três metros e volte de ré ao mesmo local, sem movimentar o volante. A alavanca deve voltar sem maiores dificuldades.

FUNILARIA:

Devido ao aço utilizado na extinta URSS não ser de qualidade digamos, "excepcional", a lataria do Niva, apesar de resistente a choques, não tem fama de ser das mais duráveis, por isso, verifique primeiramente o estado geral do carro quanto a batidas e pontos de ferrugem aparentes.


Os seguintes pontos merecem atenção especial durante a análise:

Assoalho próximo à caixa de reduzida e cambio. Trincas acentuadas ou sinais de solda nessas regiões podem indicar que o carro foi solicitado alem dos limites ou é consequência de vibração acentuada, provavelmente resultado de desalinhamento da caixa de câmbio e cardãs.

Verifique o estado da lataria da parede corta fogo do lado do motorista. E possível que vazamentos de fluido de freio ou embreagem antecipem a ferrugem naquela região.


Inspecione o assoalho de maneira geral (principalmente o do carona) por fora e por dentro do carro, retirando os carpetes caso necessário. 

Atente para o alojamento da bateria, ponto tradicional de ferrugem.

Verifique cuidadosamente a condição das longarinas do Niva. Elas não devem estar excessivamente tortas ou amassadas e é desejável que sejam da mesma cor do carro. Desconfie de Nivas pintados de preto por baixo, talvez esteja escondendo podres.

Verifique o estado geral das borrachas dos pára-brisas e portas, principalmente pra ver se não há ferrugem próxima a elas. Verifique também se não há ferrugem ou massa plástica na parte de baixo das portas.

Verifique se o local que fixa a caixa de direção não esta trincado (são três parafusos de fixação). Movimente o volante para cima e para baixo, ele não deve parecer solto.

SISTEMA DE DIREÇÃO:


Os Nivas no Brasil, foram comercializados com dois tipos de caixa de direção, a primeira mais "dura", que equipava originalmente os modelos considerados "básicos"... e a segunda, conhecida como direção "aliviada" ou "francesa" da marca Gemmer (made in France) desmultiplicada, o que torna a manobrabilidade mais fácil, era instalada pelas concessionárias nos modelos "Pantanal" e "CD" e opcionalmente nos modelos "básicos".

A direção do Niva deve ser avaliada com o carro em movimento. Não deve ser muito pesada nem ter muita folga. Procure andar em vários Nivas e sentir o comportamento.

Algumas adaptações muito divulgadas, são da caixa do Ford Maverick (ainda mais desmultiplicada do que a francesa, a ponto de ser perigosa) e a direção hidráulica da VW, essa, segundo muitos, a melhor opção, entre outras menos conhecidas.

MOTOR:

Na hora de avaliar a saúde do motor e da carburação o ideal é consultar um mecânico de confiança. Entretanto, algumas dicas podem ajudar até mesmo um leigo a identificar defeitos: Desconfie de motores recém lavados, pode ter sido limpo justamente para esconder vazamentos ou outros problemas. Ouça o motor funcionar em baixa rotação, não deve fazer barulho metálico. Peça para que alguém acelere o carro e atente para o escapamento... fumaça branca em excesso pode indicar queima de óleo ou ainda anéis ou retentores de válvulas com desgaste, e fumaça preta pode indicar problemas na carburação.

Caso o Niva tenha motor AP instalado, informe-se sobre qual kit de adaptação foi utilizado, os mais comuns e testados são os "Kit BR2000" desenvolvidos pelo Rogério Bacelar, e se quem os instalou tem de fato experiência no assunto. A oficina Atacama 4x4  é licenciada e tem muita experiência nesta adaptação.

Neste caso, fique atento a proximidade do motor com a parede corta fogo (Carcaça do motor ou cambio encostando na lataria, etc...), instalação da ventoinha elétrica, sistema de arrefecimento (se funciona adequadamente), nível de vibração da caixa de transferência ou câmbio, chicotes elétricos, coletor de descarga e escapamento (o ideal é o conjunto ser compatível ao motor utilizado).

CONSUMO:

Com relação ao consumo de combustível, deve ser no mínimo 5,5km/L na cidade. Tudo depende do motor, condição e regulagem da carburação, pneus, etc. Normalmente o Niva faz entre 7 e 9km/L na estrada e um pouco menos na cidade (até 5,5km/L é considerado "aceitável", menos que isso, certamente há algo errado).

EMBREAGEM:

A embreagem do Niva é hidráulica e não deve ser dura nem pesada, porém, se comparada a um carro de passeio comum é um pouco mais dura. Observe no compartimento de flúido hidráulico se não existe vazamento, que "normalmente" ocorre pelo cilindro inferior. Caso isso aconteça, o carro perde a embreagem e é recomendável a troca do flúido (e invariavelmente do cilindro). A troca do flúido deve mesmo ser feita periódicamente, assim como ocorre com o flúido de freio.

SUSPENSÃO:

Nivas erguidos (calçados), via de regra tendem a ter problemas nas homocinéticas que trabalham fora do ângulo adequado, assim como nos rolamentos, que apresentam aquecimento demasiado em caso de problemas, podendo inclusive vir a "travar" e causar acidentes.

No caso de substituição, dê preferência a molas e amortecedores originais (que existem no mercado), ainda que muitas adaptações sejam consagradas, se não forem feitas com exímia perfeição podem ser uma "bomba relógio" que lhe trará problemas quando menos esperar.


Os pneus são ítens de segurança e como tal devem ser prioritários. Considerando que custam em média R$300,00 cada um, devem ser bem avaliados no momento da compra. Originalmente, o Niva vinha com pneus Maggion 600 aro 16 mas é muito comum vê-los com Pirelli Rodo Rural. Alguns trocam as rodas originais aro 16 por rodas aro 15 (da Suzuki), para aumentar as opções com pneus de medidas menores e outros preferem pneus lameiros de medidas radicais, que exigem algumas adaptações como o corte parcial dos paralamas para possibilitar seu encaixe.


Os pivos da suspensão dianteira merecem um capítulo especial. Durante uma época, houve uma tentativa de fabricação nacional desta peça, que infelizmente não foi produzida com material de qualidade, tendo um alto índice de quebra. Considerando tratar-se de uma peça de importância crítica, que ajuda a manter a bandeja e consequentemente a roda dianteira no lugar, muitos acidentes - alguns graves inclusive - ajudaram a fazer a "má-fama" deste ítem do Niva... felizmente esse lote de peças esgotou-se ou foi retirado das prateleiras e hoje, existem pivôs de boa qualidade no mercado, sendo cada vez mais raros acidentes decorrentes da quebra desta peça.

FREIOS:

O Niva possui freios comumente utilizados nos carros de passeio, com discos na frente e tambor atrás. De eficiência questionável, devido ao peso do carro, muitos dizem que o dimensionamento do mesmo é mal feito, entretanto, é um sistema bem confiável quando bem manutencionado.

O freio de estacionamento, funciona através de cabo extensor e deve estar bem regulado, inclusive porque influenciam na distância que as lonas mantém da panela de freio, podendo causar, no caso de atrito, super aquecimento e até perda parcial dos freios.

Os discos, pastilhas e lonas, assim como as demais peças do carro, são facilmente encontradas em lojas especializadas em 4x4.

SISTEMA DE ARREFECIMENTO:

Alguns Nivas sobem a temperatura do motor além do normal e até fervem sem motivo aparente segundo alguns testemunhos, entretanto, deve-se considerar que o valente russinho, desenvolvido e projetado com tecnologia dos anos 60, foi trazido para o Brasil no início dos anos 90 e, óbvio, nem todos foram bem tratados, por isso, algumas particularidades neste quesito podem ser uma surpresa!


A coifa que envolve a ventoinha do radiador é fundamental para direcionar o ar de forma correta e pode sim influenciar na temperatura, além disso a válvula termostática, equivocadamente retirada em alguns casos, também é importante e deve ser verificado periodicamente. Exclue-se deste ítem, Nivas que possuam ventoinhas elétricas.

Manter o reservatório de água sempre no nível adequado e com aditivo, além de impedir a formação de ferrugem, garante maior durabilidade dos componentes do sistema.

Manutenção preventiva:

A manutenção preventiva evita panes inesperadas e normalmente, reduz muito o custo total de manutenção, já que as eventuais corretivas diminuem. Além dos vários pontos já citados, alguns cuidados nem tão básicos são fundamentais para isso.

Existem por exemplo, 7 pontos que merecem lubrificação periódica, conforme ilustração abaixo:



Dados técnicos e curiosidades:

Angulo de entrada em 38° e de saída em 32°
Vão livre do solo: 21,7cm
Travessia de água em até 60cm
Entre-eixos: 2,20m

Tamanho:
Comprimento: 3,72m
Largura: 1,68m
Altura (em condições originais): 1,64m

Motor Lada Original: Dianteiro, longitudinal com quatro cilindros em linha movido a gasolina. Até 95, cilindrada em 1,57cm³ (até 1995) com potência máxima de 76cv a 5400 rpm e torque de 12,4 kgfm a 3000 rpm.

Carpete ou forro termo-acústico:

O Niva sai de fábrica com um forro de feltro anti-térmico e anti-ruído em seu assoalho muito semelhante a um carpete. Alguns proprietários, ignorando seu objetivo, retiram esse feltro simplesmente para facilitar a limpeza, pois devido a composição do mesmo, quando há entrada de água no habitáculo em uma trilha por exemplo, fica praticamente impossível fazer sua higienização, o que resulta em um odor insuportável causado pela umidade, que inclusive favorece o processo de oxidação das partes atingidas.

Todavia, esse forro tem função termo-acústica, como dito antes... ou seja, quando retirado, aumentam a temperatura e os ruídos dentro do carro, ambos motivo de reclamação de muitos... pudera!

A seguir, uma reportagem de 2003 do programa "Auto Esporte" da TV Globo sobre o inconfundível jipinho russo e os Camaradas do Niva:



Mesmo observando todos esses pontos e sendo conhecedor do carro, qualquer um pode "levar gato por lebre" (o que não ocorre só com o Niva), mas seguir essas dicas, minimiza consideravelmente essa possibilidade.

Procure também conversar pessoalmente com proprietários de Nivas, que em sua grande maioria são muito "camaradas" e gostam de falar sobre o assunto, dando verdadeiras aulas sobre o russinho.

Abaixo, mais um vídeo interessante sobre o Niva:


No mais, boa sorte (que nunca é demais) e até a próxima!!!

segunda-feira, 6 de julho de 2009

O carro e o homem - Parte II

Como havia citado antes: Quem não se lembra do seu primeiro carro? E dos primeiros problemas que vieram com ele? Da sensação de independência almejada desde os primeiros sinais da puberdade? Esta é a minha estória de amor com essas maravilhosas máquinas de transporte:

Minha primeira lembrança em um veículo é de uma Variant branca, ano 71 do meu pai... eu tinha provavelmente uns 3 ou 4 anos, mas me lembro do cheiro do corino marrom dos bancos, de alguns detalhes imitando madeira no painel, do "tic-tac" do relógio analógico e principalmente do inesquecível contraste do antigo emblema da Volks brilhando no centro do volante.



No final dos anos 70 (provavelmente com 5 anos), andei em um taxi Corcel quatro portas enfeitado com coloridas cortinas de crochê... mesmo naquela época achei aquilo... digamos, "exagerado"... mas ficou gravado na minha memória até hoje o fácil acesso ao macio banco traseiro!!


Na minha infância, lembro também de um chevette marrom de um tio... naquela época era o carro mais confortável no qual eu já havia entrado... Assim, no início dos anos 80 eu sonhava com o esportivo Chevette GT...


Mas só em 1982, peguei pela primeira vez o volante do fuscão branco do meu pai... ano 78 se não me engano... com nove anos de idade eu mal alcançava os pedais, mas guiei por uma deserta e larga rua de terra do parque Edu Chaves na zona norte de São Paulo, onde morávamos à época.

Mas enfim, meu primeiro carro de fato, foi "traumatizante"... um fusca amarelo 1973 com pneus traseiros maiores que os dianteiros, rodas de "magnésio", bancos recaro reclináveis, faróis de milha (que nunca funcionaram) e o resto nem gosto de lembrar... descobri "beeeem depois" que por baixo da reluzente pintura amarela havia a cor original azul, padrão dos taxis em meados da década de 70... depois confirmei uns estranhos furos por baixo do porta luvas que indicavam a instalação de uma "capelinha"... acho que andei mais do lado de fora empurrando esse fusca do que do lado de dentro... lamentável... mas aprendi muito com ele!!!

Depois disso, um capítulo à parte: Minha primeira experiência 4x4... uma Ford Pampa 4x4 1984:


Na época figuravam sozinhas neste filão a Pampa e a Belina 4x4, sendo então a única opção de carros de passeio "off road". Derivadas do "aristocrático" Del Rey, ambas eram valentes e alguns corajosos admiradores as utilizam até hoje.

Continuando, vale citar meu VW Voyage 88, branco como a neve... esse também deixou saudades, apesar de ter sido o único com o qual sofri um acidente - "mea culpa" - até hoje!


Depois disso passei por um "grande" Santana 2.0 Evidence cor chumbo e ano 90, ótimo pra viajar, mas "meio" gastão... voltei então à um Ford, um Escort prata 94 tipo "sapão" bom de asfalto mas péssimo de terra. E depois o único Fiat nesta estória (tenho preconceito até hoje), um Pálio 2001 da série 500 anos, de ótimo acabamento e muito econômico, mas de motorização sofrível pra dizer o mínimo;



Outro Volkswagen, agora uma ótima Parati GL 92 dourada (uma das únicas que infelizmente não tenho fotos) e paralelamente um Golf GL alemão muito confortável e de ótima performance, mas de "cara" mecânica;


O último inesquecível desta história era um sonho da juventude: O jipe Lada Niva... o valente e injustiçado 4x4 russo azul noturno, me acompanhou em diversas aventuras (sendo inclusive tema de fundo de reportagem de revista expecializada - ao lado) e inaugurou uma nova fase em minha vida. Hoje, não consigo me imaginar em um carro que não seja 4x4.

No Brasil, alguns carros são verdadeiros clássicos, seja por seu desempenho, por sua estética ou simplesmente pela paixão inexplicável que desperta em seus proprietários. São clubes e associações que arregimentam centenas e em alguns casos, milhares de seguidores... podemos citar por exemplo os clubes do Passat, do Opala, dos "V8", do "Jeep" e os mais conhecidos como o "Clube do Fusca" e o Chevrolet Clube, entre outros diversos clubes e agremiações que têm como finalidade trocar informações e peças com outros proprietários e exibir o carro de seus sonhos.

Esse fenômeno leva a movimentar esse mercado... lojas de peças e acessórios, desmanches e até os controvertidos ferros velhos são como lojas de brinquedos para essas crianças crescidas. E as revistas especializadas em veículos, que se acumulam nas bancas são várias!!! A mais recente investida neste mercado é da mídia televisiva... programas muito semelhantes, focados em carros, começam a "pipocar" nas manhãs de domingo e também em outros horários.

Movidos por essa paixão - acredito eu - muitos proprietários transformam carros "normais" em verdadeiras raridades sobre rodas... a última moda é o "tunning" mas alguns reformam, restauram e fazem questão que até o parafuso que segura o acabamento da maçaneta seja original, outros, preferem fazer deste uma viatura exclusiva, sem igual... e muitas vezes sem precedentes!

Tenho o hábito de andar com a máquina fotográfica justamente para "flagrar" esses carros exóticos pelas ruas e abaixo seguem dois exemplos mais recentes destes:

Uma pickup Chevrolet Chevy da década de 80 (derivada do último modelo do Chevette), com motor 6cc do Opala, suspensão levantada e com sistema de tração original, parece bem agressiva e preparada para o barro, resta saber na prática:

Atente para o diferencial trazeiro aparente e a barra de torção:


E esta VW TL 1300 que flagrei próximo da minha casa... uma criativa e por que não dizer, estilosa versão "G3" desta legítima representante dos saudosos anos da discoteca:

Notem o curioso teto de vinil no melhor estilo "Landau" e as lanternas originais preservadas no para-choques envolvente e pintado na cor do carro:


Na internet, se encontra facilmente verdadeiras raridades deste tipo, mas é difícil encontrá-los nas ruas, pelo menos no Brasil... note este fiat que "parece" um simples 147 transformado... apelidado pelo autor da foto (desconhecido) como "147 Adventure"!!


Como citei no início, essa paixão é mundial, não tem raça, credo, origem ou qualquer outro tipo de barreira... somos todos admiradores desta máquina centenária que desperta suspiros e no mínimo um olhar curioso, mas indiferente, ninguém fica.

Até a próxima!!